Estava difícil. Favoritos haviam caído pelo caminho. Se em Londres o Brasil começou com o ouro de Sarah Menezes logo no primeiro dia de competição, aqui no Rio já se passavam dois dias e nada de medalha. Preocupação. Vários colocavam que o judô, sem medalhas, tornava mais distante a meta olímpica de desempenho do Brasil.
No melhor estilo da virada e da volta por cima, Rafaela Silva que em Londres perdeu, foi perseguida e sofreu bullying, agora é campeã olímpica. É a única judoca brasileira que tem títulos mundiais e olímpicos. Um feito para quem, na volta da Olimpíada de 2012, queria deixar o esporte.
Para quem pensa que é pouco, Rafaela é da Cidade de Deus, retratada no filme de mesmo nome de Fernando Meirelles – responsável pela abertura dos Jogos do Rio – e que retrata a violência daquela comunidade carente do Rio. Isso não é tudo. Brigona foi para o judô levada pelos pais para canalizar seu temperamento no esporte e, na mesma rua em que morava, havia uma academia. De lá para o projeto social de Flavio Canto, bronze em Atenas 2004 e Geraldo Bernardes seu técnico naquela jornada que desenvolvem o judô em comunidades carentes. Ali Rafaela começou a competir.
Depois o sucesso: campeã mundial sub-20 em 2008, melhor atleta brasileira no ano seguinte em Roterdã que recebia a edição do Campeonato Mundial ela foi se destacando. Até os Jogos Olímpicos de Londres. Lá conheceu o inferno e quase largou o esporte. Flavio, Geraldo e uma psicóloga não permitiram que isso acontecesse e, em 2013 lá estava ela, novamente, como a líder do ranking mundial. Ótimo, mas não era o suficiente.
Como um roteiro de filme ou mesmo uma luta emocionante, Rafaela teve sua redenção no Rio, na sua casa, com o seu público torcendo loucamente por ela. Preparadíssima entrou no tatame e com dez segundos de combate abriu o ponto que lhe daria o ouro. A partir dali, friamente comandou a luta. Contra uma adversária líder do ranking mundial Sumiya Dorjsuren. Mas ali era o momento dela Rafaela, da volta por cima. Da conquista suprema de um atleta.
O judô que é um grande formador de campeões e medalhistas brasileiros, mas principalmente de gente que é exemplo dentro e fora do esporte esperou por quatro anos para dar a Rafaela a chance de mostrar quem ela é e judoca aproveitou. Como atleta conquistou no primeiro ouro do Brasil e do judô no Rio. Como campeã foi magnânima mostrando que também é ouro na vida falando que não podia decepcionar o público que a aplaudia.
Que belo filme a vida nos dá…
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