Uma semana passou. E todas as palavras estão lá. Os rostos, as risadas, a curiosidade de todo o restaurante que de vez em quando via uma mesa com oito homens rindo e, por vezes, alguns chorando. Muita emoção e tudo continua lá.
A Última Hora foi, como disse o próprio Benedito Ruy Barbosa, um grande jornal. Descobriu o Rei Pelé e o colocou na primeira página. Por lá passaram talentos incríveis além dele e de Samuel Wainer, dono do jornal: Jô Soares, Ignácio de Loyola Brandão, Juca Chaves, José Carlos Stabel foram alguns deles. E, como Ruy disse, meu pai era o chefe dessa baderna toda.
Na conversa, eu e meu irmão voltamos no tempo. Lembramo-nos da correria entre as mesas da redação atrapalhando tudo e todos. E Ruy lembrava até do apelido do Claudio, que não era dito desde que mamãe descansou em 2004. Curioso é que fomos os últimos a chegar e todos os presentes queriam saber quem era o “Algodão”, já que ela havia perguntado a todos da mesa quem era a figura. Quando se olharam, não pude deixar de sentir certo ciúme e acredito que meu grande amigo Ruy Mauricio, filho do Ruy e organizador do encontro, também sentiu, já que vimos dois pares de olhos cheios d’água. Em seguida, Ruy dispara: “você era chato para c……” e ri. Meu irmão devolve: “não melhorei muito…”. Se abraçaram e deram um beijo que nos levou aos anos sessenta.
Ruy conta de sua primeira peça e da emoção com que meu pai comentou sobre seu talento, dizendo que ele era um grande carque da dramaturgia. Fico pensando: como escrever pensando nessa gente de talento quase infinito para as letras e emoções? Nessa hora parece que certo fez meu irmão ao virar jornalista tardio e lidar com a carga emocional numa fase madura da vida.
Ali, naquela mesa, Ruy se lembra de uma passagem com seu pai, diz ser curioso aquilo estar guardado com ele e conversa com o Algodão, que vira e dispara que pais são eternos. Sempre estão conosco e ali é possível perceber isso. Ruy sorri e concorda. Assunto seguinte são as refeições pantagruélicas de meu pai, que levavam horas e onde se não todos os assuntos do mundo eram equacionados, pelo menos aqueles do jornal ficavam solucionados. Claro que nesse tempo o almoço já tinha mais de um par de horas que voaram tão rápido quanto uma boa risada.
Ali Stephen Hawking ficaria com inveja. Não foi necessária nenhuma teoria sofisticada ou equação complicadíssima de desfiar supercomputador. Viajar no tempo foi fácil. Bastou uma boa conversa. Mas quem conduziu a conversa é que tem o talento de viajar e levar todos a navegar pelo tempo.
Ao Benedito Ruy Barbosa e ao Ruy Mauricio, meu profundo agradecimento por essa viagem que todos nós, naquela mesa, pudemos fazer.
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