O assunto dá um livro. Talvez até mais de um, mas ficamos por enquanto com o tema para mais uma coluna.
Na última postagem, falei sobre o risco que os Jogos de Peyongchang correm por conta dos ânimos cada vez mais exaltados dos “representantes máximos” de cada país, que mais parecem personagens de uma comédia que pode ter um fim nada engraçado.
Agora o “líder” dos EUA desandou a falar dos atletas e chamou-os de ‘filho da p…’ num discurso dizendo que protesto deve ser alvo de demissão. Tudo por conta de manifestações que começaram por conta de tratamento indevido da polícia contra os negros numa prática racista.
Stephen Curry, do Golden State Warriors, já havia dito que não iria à tradicional visita do campeão da NBA na Casa Branca. Com a repercussão e manifestação de mais atletas numa enorme bola de neve que, com toda certeza, irá passar por cima dele e deixá-lo ainda pior na fotografia.
Ao conclamar os donos de times, franquias e equipes das mais importantes ligas dos EUA, Trump conseguiu apenas unir quase todos contra ele. Estratégia brilhante!
Manifestações de atletas antes de eventos esportivos ou em sua premiação têm as mais diversas inspirações e motivações. Tantas quantas as diferenças entre os seres humanos, mas, no fundo a mesma essência: marcar um posicionamento. Racial, ideológico, comercial. No momento em que a multidão e, hoje, o mundo, volta seus olhos e atenção: lá vem a surpresa, o choque e a reflexão sobre o ato e os motivos que levaram ao gesto. Impacto total.
O pódio das Olimpíadas de Berlim em 1936 com a imagem de Jesse Owens batendo continência e os atletas alemães fazendo a saudação ao ditador de plantão é emblemática. Da mesma forma Tommie Smith e John Carlos com as luvas e os punhos cerrados no México em 68 no protesto que quase cassou injustamente suas medalhas. De uma só vez o presidente americano conseguiu unir contra si a NBA e a NFL. Isso não é pouca coisa considerando salários, visibilidade e importância dos atletas na formação de opinião do povo americano. Kobe Bryant publicou em seu Twitter – ferramenta mais utilizada por Trump para se comunicar com o mundo – que “um presidente cujo nome provoca divisão e raiva. De quem as palavras provocam ódio e divisão não pode fazer a América grande novamente”.
Ao usar o esporte para tentar gerar polêmica em outros temas que não a catástrofe causada pela falta de diplomacia na ONU e ao ameaçar uma guerra com consequências imprevisíveis para todo o planeta, Trump esqueceu que o esporte mexe com paixão e emoção. Que na disputa todos são iguais e competem sob as mesmas regras, que aonde a coisa vale não dá para virar o ‘riquinho’ dono da bola que se não jogar a coloca embaixo do braço e vai embora deixando todos a ver navios.
O mundo não é um campinho onde se escolhe como quer jogar, ou um campo de golfe só vai quem o patrão quer. O mundo tem bons e não tão bons assim. Tem problemas, pensamento, pessoas, hábitos, credos e gestos diferentes. Mesmo os ditos animais irracionais quando ficam quase sem água, procuram o mesmo olho d’água e mantendo suas diferenças bebem em lados opostos. Caça e predador, mas ali, naquele momento, existe uma trégua. Sabedoria da natureza ou instinto de sobrevivência?
Ao tentar levar guerra ideológica para o esporte, Donald Trump mostra que tem uma visão de mundo não muito diferente daquele que hoje é seu alvo favorito. Com discurso a verdade alternativa e segregacionista tem uma estrela em seu foguete como o outro também. Por que não vão duelar na lua?
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