Categorias: Fórmula 1

Chove, chuva: a chuva de emoções do GP do Brasil

Quem deu a ar da graça em Interlagos foi ela, que quase sempre aparece. A chuva. A água que tem papel fundamental no automobilismo: equilibra carros fortes e fracos, gera erros inesperados e emoções, muitas delas. Isso tudo na mesma proporção da quantidade de água que vem do céu.

Ela sempre separou homens, meninos e malucos. Sim, pode parecer que não, mas eles aparecem de quando em vez na F1 e também proporcionam emoções na pista. Nem todo mundo gosta de correr na chuva. O limite entre a perícia e o erro é tão próximo que mesmo os chamados “patos”, como são conhecidos os pilotos que gostam de pista molhada, também já rodaram feio.

Mesmo antes de a corrida começar efetivamente, uma vez que a largada foi com o safety car, ela já prometia. Max Verstappen já andava de um lado para outro na fila como se estivesse a pesquisar locais com menos água e onde pudesse aprontar. Tão logo o Mercedão apagou suas luzes amarelas e foi recolhido aos boxes para a corrida de verdade começar, Kimi Raikkonen nem teve chance, foi a primeira vítima da tarde e nem deve ter visto por onde o holandês passou. Até lembrou a lenda do navio fantasma “holandês voador” que surgia em meio a uma neblina. No caso era um carro que saía duma nuvem d’água.

Com duas interrupções por conta da pista molhada, a galera das arquibancadas enlouqueceu e queria corrida a todo custo. Na primeira relargada, Verstappen fez outra vítima. Dessa vez foi o líder do campeonato, Nico Rosberg, que tomou um passão e caiu para terceiro. Pouco depois na caça a Hamilton, que liderava, Verstappen rodou e domou o carro como touro bravo, e ainda conseguiu seguir na frente de Nico. Quem estava tomando chuva em Interlagos nem sentiu que ela era fria.

Quando Kimi Raikkonen rodou e bateu ainda no início da prova na reta dos boxes, um carro da Force India que vinha logo atrás pegou a asa dianteira da Ferrari em cheio. Sorte que o bico foi para o lado. Caso subisse, mesmo se os carros já estivessem com o tal halo de proteção que mais parece um chinelo de dedo, a coisa seria muito feia. Na hora lembrei-me da proteção em forma de para-brisas criada e testada pela Red Bull, que seria muito mais efetiva.

Com a chuva forte, alguns corajosos partiram para os pneus intermediários, mais rápidos, mas com muito mais risco. Dois pilotos estavam se destacando com seu uso: Max Verstappen e Felipe Massa, que vinham fazendo ótimos tempos. Mas quem já foi a Interlagos sabe que, por lá, o tempo gosta de brincar. Então a chuva apertou. Max parou e trocou os pneus e Massa rodou e bateu pouco antes dos boxes. Acabava ali o último GP do Brasil. Só que não.

Como as condições da pista pioraram muito, voltou o safety car. Massa saiu de seu Williams foi saudado pela torcida e começou as andar para os boxes. O que se viu a partir dali foi uma das cenas mais bonitas do esporte: Felipe foi andando devagar e era ovacionado pela torcida. Ao chegar aos boxes, todas as equipes estavam perfiladas com seus mecânicos e engenheiros aplaudindo o piloto brasileiro. O safety car foi perfeito e deu destaque ao personagem mais importante do GP Brasil de 2016.

A todos aqueles que pensam que são queridos e populares, em todos os campos, ali estava uma lição. Provavelmente a grande maioria das pessoas que ali estava, bem como os que acompanhavam pela televisão, se emocionou. Até os fiscais de pista ou bandeirinhas choravam. A maior emoção da corrida foi fora da pista.

Dentro dela, Max Verstappen, que com a troca de pneus havia ido lá para trás, vinha como um alucinado passando todos e chegou em terceiro. Emoção dentro da pista. Também dentro dela foi muito bom ver Felipe Nasr, brasileiro da equipe  Sauber, fazer mágica com um carro ruim e andar muito tempo em sexto e chegar em nono, marcando os primeiros pontos da equipe no ano.

Para os dirigentes de sua equipe que pensam muito em dinheiro, talvez seja a hora de fazer as contas de quanto vão receber pela posição que ele conquistou e, principalmente, quanto irão deixar de pagar em despesas no próximo ano. Peter Sauber, que dá nome à equipe, e Monisha Kaltenborn, que é a diretora, também devem ter chorado, mas devem ter economizado nas lágrimas.

A continuidade do GP Brasil passa por uma série de situações e, claro, ter um piloto na categoria é fundamental.

Vêm mais emoções por aí…

Redação Esporte

Um dos maiores especialistas em esportes olímpicos, narrador e comentarista esportivo.

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