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O adeus a Vera, a primeira perfeita da ginástica

Se houve uma inspiração para Nadia Comaneci, a maior ginasta de todos os tempos, foi ela. A perfeita combinação entre talento, técnica, beleza e criatividade.

Todos temos nossos ídolos e a eles damos uma licença que, por vezes, multiplica suas qualidades e feitos, mas isso não se aplica a Vera Caslavska, que faleceu nesta quarta-feira. A ela tudo o que se diz e está escrito é até pouco perto da grandiosidade de seus feitos e atitudes. Num tempo em que as notícias olímpicas eram raridade por aqui, ela brilhou e fez história.

Tóquio 1964 e Cidade do México 1968 a viram brilhar. A Olimpíada no Japão foi a primeira que teve transmissão via satélite e parte do mundo conheceu Vera Caslavska. Ali, ela conquistou três medalhas de ouro (geral, salto e trave) e uma de prata (equipe). Ali, travou um grande duelo com Larissa Latynina, então a grande ginasta do planeta. Ela brecou Larissa e a União Soviética. No México, a consagração com mais quatro medalhas de ouro (geral, solo, salto e barras assimétricas) e duas de prata (trave e equipe).

Vera Caslavska esteve perto de ser presa e não participar dos Jogos. Defensora da liberdade, aderiu de primeira hora junto com Emil Zatopek à Primavera de Praga e assinou o “Manifesto das 2000 palavras”. Em treinamento para os Jogos, Vera fugiu do campo onde fazia sua preparação e se escondeu. Não parou seu treinamento e um mês depois recebeu um salvo conduto para participar da Olimpíada. Para a imagem da Tchecoslováquia e seu governo satélite de Moscou era melhor ter Vera competindo do que presa.

Vera brilhou. Sua grande performance foi no solo ao som de uma música mexicana. Mostrou que era a melhor. Ainda no México, antes do final dos Jogos, anunciou que estava se aposentando. Não se deixaria ser usada como instrumento político. Ao voltar, teve de lidar com anos de perseguição até o final da ditadura tcheca. Novamente voltou por cima e chegou à presidência do Comitê Olímpico da Tchecoslováquia.

Aos que pensaram por que ela competiu no México, ela sempre afirmava que desejava vencer as ginastas do país que havia invadido o seu, tomado o poder e proibido o contato com atletas “revolucionários” como ela.

Vera Caslavska teve um documentário a ela dedicado – “Vera 68” – e no mesmo ano foi considerada a melhor atleta do mundo.

Usou talento, técnica, graça, beleza e mostrou ao mundo que estava certa. Muito embora nunca tenha obtido uma nota 10, Vera Caslavska foi perfeita!

Redação Esporte

Um dos maiores especialistas em esportes olímpicos, narrador e comentarista esportivo.

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